domingo, 28 de agosto de 2011

Oficina de Haikai - 7. Teruko Oda




Acabo de sair de uma oficina de haicai com a finíssima dama, imortal, Teruko Oda, de quem beijei as mãos, em reverência. Presidente do Grêmio Haicai Ipê, difusora dessa arte de origem japonesa, Teruko tem 8 livros publicados e participação em diversas antologias.

Ela é extremamente inteligente e domina perfeitamente a técnica do haicai.
Compartilho algumas dicas geniais:
Haicai é um modo de olhar a vida, uma sugestão poética.
Um haicai não deve explicar, adjetivar, impor juízo de valor ou visão metafísica sobre coisas ou fatos. Haicai tem vínculo com a natureza e é um caminho para a harmonização pessoal.
Ela propôs um jogo: deu a cada participante um presentinho. Para que entrássemos em clima de Natal, tema do exercício.
O pacotinho, descobrimos, era um ovinho de galinha (do sítio dela), delicadamente recheado(por ela!)com um delicioso chocolate. Imagine se não comi aquilo como se fosse uma poção mágica? Depois daquele chocolate, estou achando que passei a escrever muuuuuito melhor! Obrigada Teruko pela tarde maravilhosa, sempre a terei em meu coração.

Resultado da oficina - haicais sobre Natal:

Sagrada família
Tirada dos embrulhos
Tempo de Natal. (Danita)

Meias na lareira
Recheadas de presentes
Viram Furoshiki (Danita)

Festa de Natal
O aniversariante
Pregado na cruz (Teruko Oda)

Teruko me ensina
A ser pinheiro
e a ser bambu. (Danita)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Oficina de Haikai - 6 - Rima. Ter ou não ter?




(Quem opina é a menina Nina que este tema origina e a oficina refina, a quem dedico essa rima. Ai, isso contamina e desatina!!)

O Haicai (ou Haikai, ou Haiku) originalmente, é claro, é em japonês e SEM rima. Explora, contudo, a sonoridade da língua japonesa. Delicada, com vogais marcadas. Me arrisco a poucas palavras em japonês, mas já convivi com muitos, trabalhei com vários, tenho entre meus compadres e melhores amigos descendentes de japoneses e até sobrinhos (minha irmã casou-se com um nissei). Por isso tenho certa familiaridade com a melodia do idioma japonês. Em português, procuramos a mesma essência e concisão. As rimas, aliterações e até trocadilhos dão um certo charme e cadência ao haicai mestiço, abrasileirado. Até o mestre Goga achava interessante. Mas não é regra. Aliás, desvirtua a regra. Mas, poesia é poesia. Se toca a alma e transmite a beleza zen do haicai, porque não?
Tenho uma toria particular sobre rimas. Eles são como gatos. Quando você chama, vai atrás, ela não vem. Deixe a rima vir, enrolar-se nas suas pernas, na hora que ela quiser. Aí você tenta tocar a rima fora e a danada volta! Só assim me aparecem as rimas boas!

Paciência de tartaruga
Cem anos
Em cada ruga
(Alexandre Brito)


que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?
(Carlos Seabra)

Três flores unidas
Criam caso na alcova do vaso
E tramam escondidas.
(Danita, rimado e Guilhermino)


Flor-estrela viva
Na copa da árvore galopa
Humilde e altiva.
(Danita, rimado e Guilhermino)

domingo, 14 de agosto de 2011

Oficina de Haikai - 5. Mulheres e Haikai




Nas regras poéticas do Peregrino, de Bashô, que aparece no Goshichiki em 1760 (66 anos após sua morte) no capítulo 12 diz: "Não se torne íntimo com as mulheres escrevendo haikku; não é bom para a estudante nem para o professor. Se ela está determinada sobre o haikku, ensine-a através de uma outra. A natureza dos homens e mulheres é a reprodução. A distração perturba a riqueza e a unidade da mente. O caminho para o haikku surge da concentração. Olhe para si mesmo.
Não é curioso e cômico? Enredados em tamanho estado de poesia, natural que ocorressem romances.
Coincidência (ou não) Paulo Leminsky e Alice Ruiz formaram um casal referência quando se pensa em Haikai. A poetisa Curitibana premiada 2 vezes com o Jabuti de poesias, é autora de vários dos meus poemas preferidos (e tive a honra de ser sua aluna).

Entre uma estrela
E um vagalume
O sol se põe

Varal vazio
um só fio
lua ao meio

Outra Curitibana, anterior à Alice foi a doce Helena Kolody, veja que encantador:
Arco-íris no céu.
está sorrindo o menino
que há pouco chorou


Fanny Luíza Dupré foi a primeira mulher a publicar um livro (Pétalas ao Vento – Haicais)em 1949
Pinheirais augustos.
Curitiba. Paraná...
Vestidos de verde

Outra mulher que se destaca é Teruko Oda.
Teruko publicou vários livros e consta em muitas anntologias. Entre eles, NATUREZA - BERÇO DO HAICAI (KIGOLOGIA E ANTOLOGIA) como co-autora do mestre Hidekazu Masuda (Goga).

Ventinho da tarde.
no leve ondular de folhas
Cigarra de outono.

Dia de descanso
Vem da serra, sem descanso
canto da araponga


Eu mesma traduzi alguns haicais de escritoras americanas no meu blog, que você leitor poderá consultar nas publicações mais antigas deste blog, em português e Inglês.
Mulher e Haikai caminham muito bem juntos. Um abraço. Mulheres Haicaistas, por favor contribuam!!

domingo, 7 de agosto de 2011

Oficina de Haikai - 4 - Guilherminos




(...Mas, o que é haicai? - Criada por Bashô (sec. XVII) e humanizada por Issa (sec XVIII), o haicai é a poesia reduzida à expressão mais simples. Um mero enunciado: lógico, mas inexplicado. Apenas uma pura emoção colhida ao vôo furtivo das estações que passam, como se colhe uma flor na primavera, uma folha morta no outono, um floco de neve no inverno... Emoção concentrada numa síntese fina...)
Esta é uma explicação do poeta Paulista, Campineiro Guilherme de Almeida, que morreu quando eu tinha só 3 anos e infelizmente não poderia namorá-lo. Mas nada me impede de amá-lo. Esse poeta perfeccionista, inspirado, moderno e curioso conheceu um cônsul japonês na década de 30, frequentou encontros poéticos na comunidade oriental, encantou-se pelo jogo do haicai. Porém incorporou uma regra peculiar (que me agrada muito, mas não é lá muito zen). Ele sugere uma rima encadeada no segundo verso, além das rimas do primeiro e terceiro versos. Ou seja, pura matemática, uma brincadeira de encaixe. Veja o exemplo abaixo e conheça mais http://www.terebess.hu/english/haiku/almeida.html

O haicai (Guilherme de Almeida)

Lava, escorre, agita
a areia. E enfim, na batéia,
fica uma pepita

Eu ADORO, A D O R O!!!! os Haicais Guilherminos. O mestre Goga afirmou que na língua portuguesa as rimas são suaves. Os haicais Guilherminos são haicais mestiços, abrasileirados. Mas belíssimos.

Atrevo-me até a ensaiar alguns.

Nos malabares
labaredas de seda
Bailam nos ares.
(Danita Cotrim)

Tempo vai ligeiro
Broto frágil torna-se ágil
Alto pinheiro
(Danita Cotrim)

Agradeço aos amigos da net que têm feito comentários e postado lindos haicais. Continuemos o jogo.