domingo, 16 de outubro de 2011

Oficina de Haikai - 12. Técnicas para escrever um bom Haikai.



Li um artigo de uma escritora norte americana (Jane Reichhold - 1937)que sentia-se intrigada pois não entendia o estado de iluminação Zen, ou a atitude correta para escrever um haicai.
Como uma boa americana ela procurou normatizar algumas técnicas práticas para se escrever um "Haiku".
Por outro lado, o povo americano é conhecido por prezar a liberdade e não ater-se a regras rígidas, sendo ela também bastante questionadora e irônica. Mas pareceu-me extremamente sensível e habilidosa escritora.
Alguns conceitos estéticos mencionados por Jane eu já havia visto em uma oficina da Alice Ruiz. Seguem algumas das técnicas elencadas pela Jane, veja o que acha delas, procurei encontrá-las em alguns exemplos:

- Comparação.
Festa das lanternas!
Os ipês se iluminam
de globos cor de ouro.(Helena Kolody)

- Contraste
Na poça da lama
Como no divino céu
Também passa a lua (Afranio Peixoto)

- Associação
A missa
A Miss
O míssil (José Paulo Paes)

- YUGEN. Mistério,
No galho nu
Bruto, o corvo pousa.
Cai a noite de outono. (Bashô - tradução Danita)

- Inversão do 5 sentidos físicos.
Na alface da horta
O gosto verde
da água do poço (Jane Reichhold - traduzido por Danita)

Pensar com as mãos
Ouvir com a pele
palavras que não existem (Danita)

- SABI= Solidão, nostalgia
Meu filho, não nego
que tudo é belo. Contudo
Estou velho e cego (Waldomiro Siqueira)

WABI= Pobre, singelo, simples
Roupas no varal
Deus seja louvado
entre as coisas lavadas (Paulo Leminsky)

Humor
No copo d´água
a dentadura postiça
o riso no aquário (Lêdo Ivo)

a sala está perfeita
a brisa está perfeita
e ele ainda põe defeito (Alice Ruiz)

Um abraço carinhoso da Danita.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Oficina de Haikai - 11 Goga.


Não conheci o Hidekazu Masuda, o mestre Goga (pen name) pessoalmente. Humilde e sábio, não se dizia mestre, apenas um discípulo de Bashô. Nascido em no dia 08 de Agosto de 1911 no Japão(contemporâneo do meu pai) sonhava desde menino em viver no Brasil, para onde imigrou em 1929, no porto de Santos.

Tentei desenhar uma linha do tempo desde os primeiros registros do Haicai até o Mestre Goga, difusor desta arte aculturada nas nossas terras. Estou focando neste momento à uma linha direta vinda do Japão, deixando à parte por um momento os haicaistas brasileiros de diversas ascendências:

Kokushi e Ikkyu (século XIII), Sokan e Moritake (século XV), Matsuo Bashô (1640-1644), Nozawa Boncho (1644-1714), Kioshi Takahama (1874-1959), Nempuku Sato (1898-1979 – imigrou para o Brasil), Hidekazu Masuda (Mestre Goga, 1911-2006).

Na linha acima, não mencionei nomes como Chyio-ni (1703/1775), Busson (1716/1783), Issa (1763-1827) e Shiki (1869/1902) porque pelo que pude pesquisar a linha de Goga, parece indicar aquela sequência de influência.

Deixando um pouco a história de lado e focando na poesia, acho que vale a pena saborear alguns conselhos do Mestre Goga:
Primeiro: Ame a Natureza
Segundo: Observe bem a natureza
Terceiro: Não coloque no haicai o sentimento barato de cada pessoa
Quarto: Use palavras fáceis, simples
Quinto: Não faça o haicai, deixe-o nascer.
O conceito do haicai é ZEN, baseia-se no vazio pleno. Renuncie ao entendimento intelectualizado e deixe-se invadir pela poesia.
Depende da sensibilidade do haicaista a capacidade de fixar a transitoriedade do momento.

Meu haicai de hoje:

Através da pétala
Os pés pretos da formiga
Na branca orquídea
(Danita)

Agradeço os comentário lindos que muitas vezes são melhores que os posts (rsss). E baahh... ontem não publiquei pois perdi todo meu texto e tive que correr e refazer de manhã. Mas com todo o prazer, continuo essa oficina, que é mais oficina para mim que para os leitores. Beijo. Danita.

domingo, 2 de outubro de 2011

Oficina de Haikai - 10. A haimina do Manoel



Esta semana assisti ao filme com a biografia do Manoel de Barros. Coisa linda. Tenho o tesouro da sua obra completa...Manoel que se manteve advogado até conseguir comprar seu direito ao ócio, para procurar-se menino na barriga do chão. Se haimi é sabor de haicai, a poesia do Manoel é ápice do tempero. É fruta de poesia que explode na boca. Quem prova, se embebeda no primeiro gole. Essa poesia, é puro haimi, em estado cru, sem conservantes. Eu havia dito à amiga Elisa que seria detetive de haimi em alguns haicais. Em Manoel encontrei uma haimina! Além do que, ele ensina: poesia não é para descrever, é para descobrir. Poesia explicada, não é poesia. Poesia não é fenômeno de paisagem, é fenômeno de linguagem. Poesia se encontra, no inútil, nas coisas largadas que ninguem percebe, ela se oferece.

Afundo um pouco o rio com meus sapatos.
Desperto um som de raízes com isso
A altura do som é quase azul. (MB)


A tarde
está verde
no olho das garças. (MB)

Sou fuga para flauta de pedra doce.
A poesia me desbrava.
Com águas me alinhavo (MB)

Sou água
que corre entre pedras.
Liberdade caça jeito. (MB)

Quando as aves falam com as pedras
e as rãs com as águas
é de poesia que estão falando. (MB)

Estrela foi se arrastando no chão deu no sapo
sapo ficou teso de flor!
e pulou o silêncio (MB)

(PS- Meu ócio ainda estou pagando em caras prestações mensais)