quinta-feira, 9 de julho de 2015

Tips on how to write a good haiku - taken from my secret notebook




During the five years I have been attending to the Gremio Haicai Ipe (to put into context, this group has more than 25 years and is well respected by the people who study this sort of poem. It was founded by Haiku Master Matsuo Goga and is now coordinated by Haiku Master Teruko Oda), I took notes in my notepad of the tips I found most useful and often commented on how to write a good haiku.

Now I share this treasure, the precious tips from my secret notebook:

- Haiku is a Zen art, Buddhist detachment. To write a good haiku empty your soul.
- A haiku can talk about its author, but should not contain the views of this author.
- Do not explain the obvious. Haiku is poetic suggestion.
- Allow the reader to interpret and be part of the haiku, do not deliver an overly explained situation.
- Haiku is made from the inside out.
- Capture the light emanating from things before she goes out.
- Do not compare. Comparisons denote analyzes and reflections. Haiku is poetry and not an intellectual reflection.

VERBS:

- Use verbs always in the present tense because the haiku is the art of "now".
- The verb serves at most to explain. Do not abuse of the use of verbs as this spoils the haiku.

Kigo:

- Haiku should be built on the kigo. It is a foundation, if removed, disrupts haiku.
- A haiku must not contain more than 1 kigo.
- The kigo must be used in its concrete and not metaphysical presence.
- Kigo can have attributes, but avoid adjectives. For example, it is better to use "cold dawn" aou instead of "beautiful dawn." Beauty is an adjective full of subjectivity.

STRUCTURE

- The third verse should not explain the previous two
- The 5-7-5 metric is a guideline and not a straitjacket. The phonetic structure of the Japanese language is very different from the English or Portuguese.
- Kireji (indent) must be used instead of "period", if you want to give an impression of greater softness or suspense.
- Adverbs are better than adjectives. Nouns are better than adjectives.
- Three isolated verses and not connected to form the kind of haiku with style "shelf" considered bad. Look connect the idea and a "seam" between the poetic verses, but without explaining.


I hope these tips are helpful to you as they were for me.

Dicas para escrever um bom haicai - extraídas do meu caderno secreto




Durante os cinco anos que tenho frequentado o Grêmio Haicai Ipe (para colocar em contexto, este grupo tem mais de 25 anos e é muito respeitado pelas pessoas que estudam este tipo de poema. Foi fundado pelo Mestre de Haicai Matsuo Goga e agora é coordenado pela Mestra de Haicai Teruko Oda) , tenho anotado no meu cadernos as dicas que considero mais úteis e frequentemente comentadas sobre como escrever um bom haicai.
Agora compartilho este meu tesouro, as preciosas dicas do meu caderno secreto:
- Haicai é uma arte zen, desapego budista. Para escrever um bom haicai esvazie sua alma.
- Um haicai pode falar sobre seu autor, mas não dever conter as opiniões deste autor.
- Não explique o óbvio. Haicai é sugestão poética.
- Deixe espaço para que o leitor possa interpretar e fazer parte do haicai, não entregue uma situação demasiadamente explicada.
- Haicai é despojamento, feito de dentro para fora.
- Capture a luz que emana das coisas antes que ela se apague.
- Não compare. Comparações denotam analises e reflexões. Haicai é poesia e não uma reflexão intelectual.

VERBOS:
- Utilize os verbos sempre no tempo presente, pois o haicai é a arte do agora.
- O verbo serve no máximo para explicar. Não abuse do uso de verbos pois isso estraga o haicai.

KIGO:
- O haicai deve ser construído sobre o kigo. Ele é um alicerce, se retirado, desestrutura o haicai.
- Um haicai não deve conter mais que 1 kigo.
- O kigo deve ser usado em sua presença concreta e não metafísica.
- Kigo pode ter atributos, mas evite adjetivos. Por exemplo, é melhor utilizar "alvorada gelada" aou invés de "alvorada bela". A beleza é um adjetivo cheio de subjetividade.

ESTRUTURA
- O terceiro verso não deve explicar os dois anteriores
- A métrica de 5-7-5 é uma diretriz e não uma camisa de força. A estrutura fonética da língua japonesa é muito diferente do da língua inglesa ou portuguesa.
- Kireji (travessão) deve ser usado no lugar do ponto final, se você quiser dar uma impressão de maior suavidade ou suspense.
- Advérbios são melhores que adjetivos. Substantivos são melhores que adjetivos.
- Três versos isolados e não conectados formam o tipo de haicai com estilo "prateleira", considerado ruim. Procure conectar a ideia e com uma "costura" poética entre os versos, porém sem explicar.

Espero que estas dicas sejam úteis para você como foram para mim.

domingo, 21 de junho de 2015

Kigos - INVERNO

Seguem algumas palavras marcadoras da estação do ano (Kigo) - relativas ao inverno. Escolha a sua.

Frente fria - Vento cortante - Névoa de inverno - Geada
Garoa - Campo seco - Rio seco
Coruja - Atum - Tainha
Ipê Roxo - Suinã - Azálea- Couve-flor - Batata-roxa - Nabo - Macaxeira
Meias de lã - Xale - Cachecol - Lareira

Em homenagem à talentosa escritora  Nina Maniçoba Ferraz, minha querida amiga, estudiosa e sábia - na ocasião do seu aniversário - um haicai de inverno.




Coruja sobre a cerca -
Solidão na estrada que escurece.
Seu olhar me acompanha. 

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Haikai Combat

Estou armada até os dentes
de palavras afiadas, que cortam a pele -
e rompem correntes

(Danita)

domingo, 14 de junho de 2015

Haicai - autores africanos



Tenho pesquisado o trabalho de haicai em alguns países, procurei no continente africano algumas referências, principalmente em inglês, sem muito sucesso. Abaixo alguns haicais de um autor angolano, um dos meus preferidos: José Eduardo Agualusa - de quem eu já li grande parte da obra. Considero Agualusa um autor sensível, preciso, com texto cheio de elegância e sensualidade.
Algumas vezes ele ponteia seus romances com haicais. Abaixo, alguns deles:

(Do romance Barroco Tropical - Cia das Letras, 2009)

Dezembro. À sombra verde
dormia uma mangueira amarela:
saudade.

Dezembro. Sobre o muro
Ardia em silêncio a pitangueira.

A saudade é um fruto vermelho.

(do romance Teoria Geral do Esquecimento - Editora Foz)

eu ostra cismo
cá com minhas pérolas
cacos no abismo.

(este último haicai, na voz da personagem Ludo, na verdade foi composto a pedido do autor pela escritora Christiana Nóvoa)

Não são haicais ao estilo clássico, porém não há como negar a carga poética. Agualusa...adoro.

domingo, 31 de maio de 2015

TOMAS TRANSTRÖMER - O GRANDE ENIGMA



Segue abaixo a tradução dos haicais do  livro " O Grande Enigma" do vencedor do Premio Nobel de Literatura de 2011, o sueco TOMAS TRANSTRÖMER,
Tomas foi psicologo de profissão, tendo trabalhado com viciados e presidiários na Suécia. Apesar de ser o poeta Sueco mais traduzido e muito reconhecido, em 2011 fiquei alucinada atrás de qualquer livro seu no Brasil e não encontrei. Então pedi para minha sogra que é sueca, que me enviasse de Estocolmo um exemplar...em sueco.  Junto com minha sogra, Katarina Leijonhufvud, ela me ajudando a entender o significado, passando para o inglês e do inglês ao sueco - conseguimos traduzir tudo. Como tive receio de que a tradução não estivesse fiel, contratei uma tradutora juramentada em sueco para revisar a minha tradução. O resultado abaixo já é o revisado pela tradutora que elogiou meu trabalho, mal sabe ela como sofri...

Os haicais abaixo foram escritos após um acidente cerebral vascular que limitaram porém não impediram que Tomas continuasse produzindo.  Passou seus últimos anos recluso em uma ilhazinha na Suécia.

Para quem, como eu, tentou pesquisar, aí vai um caminho.

(abaixo apenas os haicais, sendo que o livro tem também outros poemas)

O GRANDE ENIGMA.



Um mosteiro de Lamas
Com jardins suspensos
Pinturas de batalhas


Parede do desespero
Os pombos sem faces
Vão e vêm

Pensamentos quietos
Como os azulejos de mosaico
Nos jardins do palácio

De pé na sacada
Na  gaiola de feixes solares -
feito um raio de sol

Murmurando na neblina
Ao longe um barco pesqueiro -
Troféu sobre a água.

Cidades cintilantes:
tons, lendas, matemática -
só que diferente.

Um caribu ao sol
Moscas costuram e alinhavam
a sombra no chão.


Uma rajada lancinante
atravessa a casa esta noite - 
O nome dos demônios.


Lúgubres pinheiros
No mesmo trágico pântano.
Sempre e sempre.


Absorto pela escuridão.
Encontrei uma grande sombra
Dentro de um par de olhos.


Estes miliários
Que seguem em jornada.
Ouvem a voz das pombas.


A morte se debruça
sobre mim, um problema de xadrez.
E tem uma solução.


O sol se esconde.
O barco rebocador me olha
com a sua cara de buldogue.


Da borda de um penhasco
Vê-se a fenda no muro do Troll.
O sonho é um Iceberg.

Subindo as encostas
sob o sol – as cabras são como
chamas domesticadas.

E a flor azulzinha
se levanta do asfalto
feito um mendigo.

As folhas castanhas
são tão preciosas quanto
Os Manuscritos do Mar Morto

Numa prateleira
da biblioteca dos tolos
o sermão intocado.

Levante-se do brejo!
A mariposas parecem rir
Quando batem as doze.

Minha felicidade inflou-se
e as rãs cantaram nos
pântanos da Pomerânia.


Ele escreve, escreve...
Visco fluía pelos canais.
Barca sobre o rio Styx.

Siga silente como a chuva
Conheça as folhas sussurrantes
Ouça o sino do Kremlin!

Floresta intrigante
onde Deus vive sem dinheiro.
Os rochedos resplandeceram.


Sombras rastejantes...
Estamos perdidos na floresta
No clã dos cogumelos silvestres


Um pássaro branco e negro
persiste em seu zig-zag
campeando nas campinas.


Veja como eu me sento
Feito um bote ancorado.
Aqui eu sou feliz.


As alamedas se arrastam
em tropel de raios de sol.
Alguém gritou?


Quando chega a hora
o vento cego repousa
contra a fachada.

Eu estive lá -
Sobre a parede branca
juntam-se moscas.

Bem aqui o sol queimava...
Um mastro com velas negras
De muito tempo atrás.

Aguente firme rouxinol!
Algo emerge das profundezas ¬-
estamos disfarçados.


A  morte se inclina
E escreve na superfície do mar.
A igreja respira ouro.

Algo aconteceu.
A lua iluminou o quarto.
Deus estava ciente.

O telhado ruiu
E o cego pode me ver.
Este meu rosto.

Ouça o murmulho da chuva.
Eu sussurro um segredo
para chegar lá.

Palco na plataforma.
Que estranho prazer - 
a voz interior

Visagem.
A velha macieira.
O mar está perto

O mar é uma muralha.
Ouço o grito das gaivotas - 
elas acenam para nós.

Nas costas o vento de Deus.
O tiro que vem em silêncio -
um sonho longo demais.

Silêncio cinzento.
O gigante azul passa ao longo.
Brisa fria do oceano.

Vento grande e lento
que vem da biblioteca do mar.
Aqui encontro sossego.

Pássaros-homens.
As macieiras estavam em flor.
O grande enigma.








sábado, 23 de maio de 2015

To Ku or not to Ku - Haicai Combat e Poetry Slam.



Em 2014 o Beco de Escritores (*) foi convidado para participar da OFF FLIP em Paraty onde fizemos uma instalação e um sarau com o tema "Partidas", um pré-lançamento do livro com mesmo nome. Na mesma semana haveria um Haikai Combat. Bom...eu não sabia muito bem o que era aquilo e acabei me inscrevendo, para brincar e principalmente para me relacionar com outras pessoas que curtissem haicai.
Lá conheci a Yassu Nogushi, arrumando as cadeiras no salão do casarão da Câmara dos Vereadores. Ela foi muito simpática comigo e me acolheu super bem. Esse pessoal é do Rio de Janeiro e criou um evento chamado Haicai Combat. Esse evento foi idealizado por Marcos Bassini e Yassu Nogushi e inspirado e apadrinhado no Menor Slam do Mundo, criado pelo poeta performático Daniel Minchoni.
Eu, que tenho ficado com a cabeça enfiada na literatura japonesa do século XVI, XVII e XVII, viajando nas bases clássicas do haiku, contemplativa, zen, apegada às regras, ao kigo e às estações do ano, levei embaixo do braço alguns haicais sobre sazonalidade de frutas e verduras, porque estou fazendo um livro sobre isso.
Quando chegaram os outros concorrentes, eu era o verdadeiro peixe fora d´água. E olha que eu achava que entendia um pouco sobre haicai. Chegou uma galera com estilo hiphop, meio na pegada de Sarau da Cooperifa, com tercetos cheios de swing e temática social...e eu falando de agrião!
Para saber como me sentí, veja a cena que Renée Zellweger vai a uma festa de família vestida de coelhinha da Playboy no filme O Diário de Bridget Jones - baseado no livro da britânica Helen Fielding.
Lógico que tomei logo um nocaute dos outros concorrentes e tentei sair com um pouco de dignidade. Mas fiquei me perguntando…porra? Isso aí é haicai?
Então comecei a pesquisar um pouco e descobri umas coisas bem interessantes que queria compartilhar.
Quem se interessa por haicai sabe que talvez o maior mestre tenha sido o Bashô, ele mesmo foi um cidadão rebelde, angustiado, desafiador do status quo. O primeiro livro do Bashô publicado em 1672 foi o Jogo das Conhas do Mar. Ainda não achei esse livro traduzido em português, mas eu fico fuçando muito em sites americanos – e o conteúdo deles é muito maior que o nosso.
Esse Jogo das Conchas, é o tatatataravô japa do Haicai Combat. O Bashô ficava com os amigos dele em um desafio de 3 haicais cada comparando quais eram os melhores (aí o que muda em relação aos dias de hoje são os critérios de julgamento– porque o certo e o errado, o bonito e o feio mudam com o tempo e com o olhar).
O nome Jogo das Conchas vem de uma brincadeira que as criancinhas japonesas fazem ao catar conchinhas do mar e comparar quais são as mais bonitas. Colocam as selecionadas em uma pilha e vão comparando e comparando até chegarem às melhores de todas.
Misturado com o Slam – a poesia falada e performática – gerou o mestiço Haicai Combat.
Há 16 anos em Ann Arbor, no estado do Michigan fazem um campeonato de Head-to-head Haiku, que é uma espécie de Combat e que foi coroado no concurso nacional de Slam de Poesia nos USA onde o Slam é institucionalizado e existe até escola de Slam. Existem campeonatos mundiais de Poetry Slam cujas origens, se a gente for cutucar,  vai chegar à Grécia antiga e se bobear nas rodas em volta das fogueiras dentro das cavernas ancestrais.
Head-to-Head Haiku assim como os haicais do pessoal do Haicai Combat tem uma temática política, filosófica, cômica, absurda, erótica e até de horror.
O título desse post foi baseado em um artigo do americano de origem nipônica, Tazuo Yamaguchi, que organiza o Head-to-Head Haiku, que ele abrevia e chama de “Ku”. http://snn.poetryslam.com/featured-articles/to-ku-or-not-to-ku/
E sabe como eles jogam? Seguindo as regras do Jogo das Conchas do Bashô.
Respondendo então à minha pergunta. Mas afinal aquele Slam de poesia onde eu havia me enfiado era haicai?

Mano…e não é que era?

(*) Beco de Escritores é um grupo composto em sua maioria por contistas e que se reúne desde 2011 na Vila Madalena, em São Paulo.