Estou lendo e curtindo demais o Livro de Haicais de Jack Kerouac (L&PM) traduzido pelo poeta Claudio Willer - que eu admiro, é meu amigo e já nos visitou no Beco de Escritores(*).
Fiquei impressionada com a personalidade contraditória do Jean-Louis Kerouac que foi um jovem lindíssimo, sensível, curioso, cheio de inspiração e energia para escrever prolíficamente. Foi festejado pelo livro "On the road" e elevado a ícone da geração beat. Contestador, carregava o estilo descolado que muitos queriam ter. Por outro lado era machista, reacionário, e dependente de álcool. Morreu aos 47 anos, inchado, consumido pela cirrose, oprimido pelo sucesso e pressão comercial e enredado em um relacionamento neurótico com sua velha mãe.
Jack teve amigos que o apresentaram ao zen-budismo e ao haicai, ele bebeu (sem trocadilho com o alcoolismo - perdoem-me) das mesmas fontes que eu, e que a maioria das pessoas que se interessam por haicai - Bashô, Buson, Issa e Shiki - os grandes mestres haicaistas do Japão. Pense se o Bashô não foi ele mesmo um personagem "pé-na-estrada", já que abandonou sua vida estável para peregrinar pelas estradas do Japão? É o arquétipo do louco no tarô, com sua mochilinha nas costas, observando, caindo na vida, buscando seu propósito e registrando poeticamente suas transformações e seu entorno. Mas o que mais me chamou a atenção foi um recurso que ele usou para encadear diversos haicais formando um texto em prosa. Olha só que malandro, que danado! E não é que ficou bom?
Veja este trecho que extraí do livro:
"O haicai também permeia seu estilo em prosa de outros modos. Em Os Vagabundos Iluminados, ele escreve:
"A tempestade foi embora da mesma maneira repentina como chegara, e o brilho tardio do final do dia me cegou. Fim de tarde, meu esfregão secando sobre a pedra. Fim de tarde, minhas costas nuas e frias, eu parado em cima do mundo em um campo nevado usando minha pá para colocar torrões de neve em um balde, Fim de tarde, era eu e não o vazio que se transformava" .
Essa sequência que começa com Fim de tarde - é o primeiro verso de haicais que Jack havia colocado em seu diário e suas variações. Outra coisa que tenho curtido no Jack - a primeira ideia é a melhor ideia. Hit the road Jack...
Alguns haicais do Jack.
A nevasca mal começou
todo esse pão espalhado
e só um pássaro
Nuvens brancas deste planeta esfumaçado
obstruem
Minha visão do vazio azul
O gato branco
É verde à sombra da árvore
Feito o cavalo de Gauguin
(*)Beco de Escritores é minha casa literária, onde produzo contos com outros escritores, na Vila Madalena, em São Paulo. Há referências sobre o Beco no Facebook.
Fiquei impressionada com a personalidade contraditória do Jean-Louis Kerouac que foi um jovem lindíssimo, sensível, curioso, cheio de inspiração e energia para escrever prolíficamente. Foi festejado pelo livro "On the road" e elevado a ícone da geração beat. Contestador, carregava o estilo descolado que muitos queriam ter. Por outro lado era machista, reacionário, e dependente de álcool. Morreu aos 47 anos, inchado, consumido pela cirrose, oprimido pelo sucesso e pressão comercial e enredado em um relacionamento neurótico com sua velha mãe.
Jack teve amigos que o apresentaram ao zen-budismo e ao haicai, ele bebeu (sem trocadilho com o alcoolismo - perdoem-me) das mesmas fontes que eu, e que a maioria das pessoas que se interessam por haicai - Bashô, Buson, Issa e Shiki - os grandes mestres haicaistas do Japão. Pense se o Bashô não foi ele mesmo um personagem "pé-na-estrada", já que abandonou sua vida estável para peregrinar pelas estradas do Japão? É o arquétipo do louco no tarô, com sua mochilinha nas costas, observando, caindo na vida, buscando seu propósito e registrando poeticamente suas transformações e seu entorno. Mas o que mais me chamou a atenção foi um recurso que ele usou para encadear diversos haicais formando um texto em prosa. Olha só que malandro, que danado! E não é que ficou bom?
Veja este trecho que extraí do livro:
"O haicai também permeia seu estilo em prosa de outros modos. Em Os Vagabundos Iluminados, ele escreve:
"A tempestade foi embora da mesma maneira repentina como chegara, e o brilho tardio do final do dia me cegou. Fim de tarde, meu esfregão secando sobre a pedra. Fim de tarde, minhas costas nuas e frias, eu parado em cima do mundo em um campo nevado usando minha pá para colocar torrões de neve em um balde, Fim de tarde, era eu e não o vazio que se transformava" .
Essa sequência que começa com Fim de tarde - é o primeiro verso de haicais que Jack havia colocado em seu diário e suas variações. Outra coisa que tenho curtido no Jack - a primeira ideia é a melhor ideia. Hit the road Jack...
Alguns haicais do Jack.
A nevasca mal começou
todo esse pão espalhado
e só um pássaro
Nuvens brancas deste planeta esfumaçado
obstruem
Minha visão do vazio azul
O gato branco
É verde à sombra da árvore
Feito o cavalo de Gauguin
(*)Beco de Escritores é minha casa literária, onde produzo contos com outros escritores, na Vila Madalena, em São Paulo. Há referências sobre o Beco no Facebook.
Belo artigo, Danita! Esse livro de haicais do Kerouac é de leitura obrigatória para quem se atreve com poesia!
ResponderExcluir