domingo, 18 de julho de 2010

Fábula dos homem e suas palavras. Homem número 2

Um homem nasceu com intenso desejo de aprender e saber. Percebia desde pequeno o milagre em cada folha, pedrinha, inseto. Sua memória era muito espaçosa e nela ele guardava uma foto de cada nova descoberta. Quando foi apresentado às palavras, segurou uma delas contra a luz e viu que elas tinham várias dimensões e eram multifacetadas. Além disso, se encaixavam. A mesma palavra, dependendo da maneira que fosse chacoalhada poderia produzir diversos sons.
O português anasalado, os duros idiomas escandinavos, o onomatopéico inglês, o delicado tupi. Como rápido exemplo, exibia uma das faces de um trapezoidal termo que descreve um animal doméstico:
Cachorro
Chien
Dog
Inu


Havia palavras cabeludas, compostas, sagradas, secretas.
Ele só não gostava de pesar ou medir palavras, o que lhe causava um efeito colateral, pois como todos sabem, cada coisa dita ou pensada exerce pressão. Por isso ele tinha muita dor nas pernas, devido ao peso continuamente acumulado desse léxico, guardado ao acaso em sua vasta galeria mental. Muitos desses objetos ele usava no dia a dia, outros, pegava com carinho polia e colocava cuidadosamente de volta na estante. As amava como seres naturais, mas seu grande dom era compartilhar esse conhecimento com outras pessoas. Não por exibição, mas por curiosidade e amizade ao saber. Tornou-se professor.

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