domingo, 18 de julho de 2010
Fábula dos homens e suas palavras. Homem número 3
Um homem, quando muito jovem, foi mordido por uma palavra.
O assalto veio de um poema infecciosamente belo, que o contaminou atingindo o coração, como um mal de Chagas. Incubado no princípio, assintomático em sua fase aguda, o caso foi se tornando crônico, progredindo silencioso por vinte anos. Paralelo aos super-heróis, esse tipo era também uma espécie de Hulk, homem-aranha ou vampiro (comenta-se que igualmente não suportava alho), pois sua força, por ironia, vinha de sua maldição.
Quando a febre se tornava insuportável, ele escrevia com raiva e espírito de vingança, deixando nas páginas torrentes vermelhas, pulsantes. Assim ele aliviava a exaltação, desenfreado sem pontos nem vírgulas naquela hemorragia de letras, perigosamente contagiante ao leitor. Passada a compulsão, novamente assumia feição humana, podendo pedir um pingado no boteco, sem que o cidadão ao lado lhe adivinhasse a condição de besta-fera.
Esse homem que tem a palavra em seu sangue, não tem escolha. É um escritor.
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Dan, seu conto me lembrou uma história contada pela Adélia Prado, sobre um rapaz que fazia esculturas lindas lá em Divinópolis. Ela foi parabenizá-lo e disse, "deve ser uma maravilha ter este dom". O rapaz respondeu: "Credo, dona, eu detesto, mas isso precisa sair de mim". Ele não tinha escolha!
ResponderExcluirÉ isso mesmo Dani. Ainda mas com a ironia de ele estar em Divinópolis. Estou indo agora para a Flip encontrar outros amaldiçoados-abençoados como eu. rssss!
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