Um homem se deu conta que havia vida nas palavras e que apesar de seus temperamentos diversos, ele tinha talendo para dominá-las. Percebeu que poderia colocá-las a seu serviço e delas tirar algum dinheiro. Transformou-as em caixeirinhas capazes de vender tudo. Sapatos, parques de diversão, políticos, o que fosse. Tornou-se um publicitário e seguiu gerenciando suas articuladas balconistas de loja. Ocupado demais com seus adjetivos e predicativos ele foi abandonado pela mulher que amava.
Mas as palavras, que o respeitavam como patrão, ficaram ao lado dele e o consolaram. Dessa dor nasceu seu primeiro livro. Foi aí que ele notou que os livros também poderiam render lucro. Colocou suas palavras em fila, maquiadas de forma a fisgar os fregueses, como divertidas garotas de programa. Publicou e fez disso meio de vida, em literária caftinagem. Foi acumulando bens e montou família. Quando teve seu primogênito, por falta de outro brinquedo que lhe ocorresse, deu a ele algumas palavras e encantou-se quando o menino riu. O homem achou aquilo lindo. Deu mais palavras para o garoto que se abria em gargalhadas. Passou a recolher e colecionar cada trechinho de efeito cômico para dar ao filho. Mas logo viu sua vantagem e encaixotou os pobres vocábulos em cubículos. Viraram almanaques de anedotas para crianças. Se passa uma frase boa, ele assovia e esfrega as mãos. Virou editor e considera-se um sucesso.
Que lindo, adorei este catador e distribuidor de palavras. Beijo, Angela
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