quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

HAE CAE (primieros haicais inspirados na obra de Caetano Veloso)

Imperador fez xixi
No tamarindeirinho
Batismo real

Olhos de mel
Conteplam neblina
na madrugada

Onda do mar
Arrebenta um grito
De felicidade

domingo, 18 de dezembro de 2011

Natal




Mil luzes de led
enroscam-se na cidade
tecno-vagalumes

Uma pluminha
Cai do céu em Dezembro
Nossa neve?

Pinheiro falso
De crepon esverdeado
Pálido e inodoro.

Todo vermelho
Em seu traje suado
Lá vai Papai Noel

Às vezes revela-se
Entre falsos abraços
O amigo secreto

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sarau no Parque

Hoje no parque da Independência, a amiga Carol Ramos fez o primeiro "Parque, o Sarau." Ocupamos aquele espaço público, nos apropriamos do lugar. Fizemos nossa intervenção com alegria. Cordialmente conversamos, lemos e declamamos. A literatura vai ocupando mais território na cidade de São Paulo. Nina, sempre lá. "Tamo junto".


Compareceu ao sarau
O sol morno da tarde
Iluminando versos

Velhos amigos
Bailam no parque
Embalando palavras

No calor do dia
Pombos pediam migalhas
Só jogávamos poesia

Na tarde de verão
Enquanto varre a calçada
Velho fala com o gato

No calor da tarde
enquanto uns bebem cerveja
Outros catam latinha

domingo, 27 de novembro de 2011

Volto para minhas flores.

Estes últimos dias estive dedicada à Balada Literária do amigo Marcelino Freire (veja em http://www.garapapaulista.com.br/?p=8203). Eu e meu querido grupo de amigos (Beco) nos apresentamos em um sarau na Casa das Rosas. Agora eu retomo meu haicais sobre flores.





Novamente primavera
Meus versos voltam
Para as orquídeas


Solta no ar
Presa no tronco
A chuva de ouro



Duas cattleyas
Brancas e altivas
no vaso de musgo



Despercebida no vaso
Na altura dos joelhos
orquídea multicor


Ainda sem flores
Aproveitando a chuva
A orquídea suspensa


A orquídea ao vento
Sua pétala é um leque
ocultando o inseto

Nas mãos da menina
Buquezinho colhido
Capim e sálvia

quinta-feira, 24 de novembro de 2011



Via o sol
Feito rubra flor
De sálvia

domingo, 6 de novembro de 2011

Arrematando a semana

Lamento ter ficado tanto tempo sem atualizar o Blog. Tenho tentado postar sagradamente toda semana, mas às vezes me enrolo nessa minha mania de fazer tudo-ao-mesmo-tempo-agora. A série de posts sobre oficina de haicai está encerrada (eu acho). Os estudos, no entando continuam. Fiz a oficina no espaço do coletivo de literatura B_eco, http://grupobeco.blogspot.com/
do qual eu faço parte. Fomos 16 pessoas ao todo. O resultado dessa oficina logo poderá ser conferido no blog do B_eco.

Ontem participei do 23º Encontro Brasileiro de Haicai, com os queridíssimos do Grêmio Haicai Ipê. Conheci haicaistas muito interessantes, como o paulista-baiano Gustavo Felicíssimo que palestrou sobre Haicai no nordeste, a Regina Alonso que fez um lindo livro de fotopoemas e a maranhense-carioca Benedita Azevedo.
As crianças (muitas visivelmente carentes) de auto-estima polida, com orgulho da poesia e pelos prêmios recebidos. Hoje dou destaque para a Benedita. Olha isso, se não é demais:

Boca do bueiro-
Boneca de olhos abertos
resiste à enchente

Dia de faxina -
Deixem! Deixem o casulo
Pendurado na estante.

Que bom que eu te abracei, Benedita Azevedo!

domingo, 16 de outubro de 2011

Oficina de Haikai - 12. Técnicas para escrever um bom Haikai.



Li um artigo de uma escritora norte americana (Jane Reichhold - 1937)que sentia-se intrigada pois não entendia o estado de iluminação Zen, ou a atitude correta para escrever um haicai.
Como uma boa americana ela procurou normatizar algumas técnicas práticas para se escrever um "Haiku".
Por outro lado, o povo americano é conhecido por prezar a liberdade e não ater-se a regras rígidas, sendo ela também bastante questionadora e irônica. Mas pareceu-me extremamente sensível e habilidosa escritora.
Alguns conceitos estéticos mencionados por Jane eu já havia visto em uma oficina da Alice Ruiz. Seguem algumas das técnicas elencadas pela Jane, veja o que acha delas, procurei encontrá-las em alguns exemplos:

- Comparação.
Festa das lanternas!
Os ipês se iluminam
de globos cor de ouro.(Helena Kolody)

- Contraste
Na poça da lama
Como no divino céu
Também passa a lua (Afranio Peixoto)

- Associação
A missa
A Miss
O míssil (José Paulo Paes)

- YUGEN. Mistério,
No galho nu
Bruto, o corvo pousa.
Cai a noite de outono. (Bashô - tradução Danita)

- Inversão do 5 sentidos físicos.
Na alface da horta
O gosto verde
da água do poço (Jane Reichhold - traduzido por Danita)

Pensar com as mãos
Ouvir com a pele
palavras que não existem (Danita)

- SABI= Solidão, nostalgia
Meu filho, não nego
que tudo é belo. Contudo
Estou velho e cego (Waldomiro Siqueira)

WABI= Pobre, singelo, simples
Roupas no varal
Deus seja louvado
entre as coisas lavadas (Paulo Leminsky)

Humor
No copo d´água
a dentadura postiça
o riso no aquário (Lêdo Ivo)

a sala está perfeita
a brisa está perfeita
e ele ainda põe defeito (Alice Ruiz)

Um abraço carinhoso da Danita.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Oficina de Haikai - 11 Goga.


Não conheci o Hidekazu Masuda, o mestre Goga (pen name) pessoalmente. Humilde e sábio, não se dizia mestre, apenas um discípulo de Bashô. Nascido em no dia 08 de Agosto de 1911 no Japão(contemporâneo do meu pai) sonhava desde menino em viver no Brasil, para onde imigrou em 1929, no porto de Santos.

Tentei desenhar uma linha do tempo desde os primeiros registros do Haicai até o Mestre Goga, difusor desta arte aculturada nas nossas terras. Estou focando neste momento à uma linha direta vinda do Japão, deixando à parte por um momento os haicaistas brasileiros de diversas ascendências:

Kokushi e Ikkyu (século XIII), Sokan e Moritake (século XV), Matsuo Bashô (1640-1644), Nozawa Boncho (1644-1714), Kioshi Takahama (1874-1959), Nempuku Sato (1898-1979 – imigrou para o Brasil), Hidekazu Masuda (Mestre Goga, 1911-2006).

Na linha acima, não mencionei nomes como Chyio-ni (1703/1775), Busson (1716/1783), Issa (1763-1827) e Shiki (1869/1902) porque pelo que pude pesquisar a linha de Goga, parece indicar aquela sequência de influência.

Deixando um pouco a história de lado e focando na poesia, acho que vale a pena saborear alguns conselhos do Mestre Goga:
Primeiro: Ame a Natureza
Segundo: Observe bem a natureza
Terceiro: Não coloque no haicai o sentimento barato de cada pessoa
Quarto: Use palavras fáceis, simples
Quinto: Não faça o haicai, deixe-o nascer.
O conceito do haicai é ZEN, baseia-se no vazio pleno. Renuncie ao entendimento intelectualizado e deixe-se invadir pela poesia.
Depende da sensibilidade do haicaista a capacidade de fixar a transitoriedade do momento.

Meu haicai de hoje:

Através da pétala
Os pés pretos da formiga
Na branca orquídea
(Danita)

Agradeço os comentário lindos que muitas vezes são melhores que os posts (rsss). E baahh... ontem não publiquei pois perdi todo meu texto e tive que correr e refazer de manhã. Mas com todo o prazer, continuo essa oficina, que é mais oficina para mim que para os leitores. Beijo. Danita.

domingo, 2 de outubro de 2011

Oficina de Haikai - 10. A haimina do Manoel



Esta semana assisti ao filme com a biografia do Manoel de Barros. Coisa linda. Tenho o tesouro da sua obra completa...Manoel que se manteve advogado até conseguir comprar seu direito ao ócio, para procurar-se menino na barriga do chão. Se haimi é sabor de haicai, a poesia do Manoel é ápice do tempero. É fruta de poesia que explode na boca. Quem prova, se embebeda no primeiro gole. Essa poesia, é puro haimi, em estado cru, sem conservantes. Eu havia dito à amiga Elisa que seria detetive de haimi em alguns haicais. Em Manoel encontrei uma haimina! Além do que, ele ensina: poesia não é para descrever, é para descobrir. Poesia explicada, não é poesia. Poesia não é fenômeno de paisagem, é fenômeno de linguagem. Poesia se encontra, no inútil, nas coisas largadas que ninguem percebe, ela se oferece.

Afundo um pouco o rio com meus sapatos.
Desperto um som de raízes com isso
A altura do som é quase azul. (MB)


A tarde
está verde
no olho das garças. (MB)

Sou fuga para flauta de pedra doce.
A poesia me desbrava.
Com águas me alinhavo (MB)

Sou água
que corre entre pedras.
Liberdade caça jeito. (MB)

Quando as aves falam com as pedras
e as rãs com as águas
é de poesia que estão falando. (MB)

Estrela foi se arrastando no chão deu no sapo
sapo ficou teso de flor!
e pulou o silêncio (MB)

(PS- Meu ócio ainda estou pagando em caras prestações mensais)

domingo, 25 de setembro de 2011

Oficina de Haikai - 9. Não explique demais




Trabalhando com amigos haicaistas e mesmo nas oficinas literárias ou de criação que participo, um conselho sempre surge: trabalhe com as sombras, não jogue demasiada luz sobre o texto. Deixe o leitor refletir, imaginar, saborear a poesia das entrelinhas. Lembra daquele tio chato que explica a piada? Um horror...Por outro lado, as melhores declarações de amor que recebi foram quase todas feitas de silêncio. E não falavam de paixão. O haicai é um poema tão condensado, feito de tênue luz poética. Na hora que se explica, perde a beleza.
Veja que lindo haicai cujo kigo é cão, porém que tem a esperança como haimi.

o cão olha sempre
com a trela na boca
para a porta.

David Rodrigues

domingo, 18 de setembro de 2011

Leblon

Árvores do Leblon
Orquídeas ondulam
Mais que o mar

domingo, 11 de setembro de 2011

Oficina de Haikai - 8. Haimi (sabor de Haicai)




Aquela sensação poética que nos eleva, o algo mais que se lê entre as linhas, isso é o haimi. Haimi, no meu entendimento é a essência da poesia. O haicai é uma arte que mostra um caminho de elevação espiritual, um distanciamento contemplativo. Neste estado zen, o haimi se revela.
Procurei em um dicionário americano o significado de Haimi: subdued taste; refined taste, having a haiku poetic flavor (sabor suave; gosto refinado, sabor poético do haiku). Fiquei me perguntando porque ninguém traduzia como: Perfume de haikai...ou toque de poesia. No ideograma kanji, haimi significa literalmente: sabor + haicai. Parece meio óbvio, mas para mim foi revelador. No próximo post vou brincar de achar o haimi em alguns haicais.

domingo, 28 de agosto de 2011

Oficina de Haikai - 7. Teruko Oda




Acabo de sair de uma oficina de haicai com a finíssima dama, imortal, Teruko Oda, de quem beijei as mãos, em reverência. Presidente do Grêmio Haicai Ipê, difusora dessa arte de origem japonesa, Teruko tem 8 livros publicados e participação em diversas antologias.

Ela é extremamente inteligente e domina perfeitamente a técnica do haicai.
Compartilho algumas dicas geniais:
Haicai é um modo de olhar a vida, uma sugestão poética.
Um haicai não deve explicar, adjetivar, impor juízo de valor ou visão metafísica sobre coisas ou fatos. Haicai tem vínculo com a natureza e é um caminho para a harmonização pessoal.
Ela propôs um jogo: deu a cada participante um presentinho. Para que entrássemos em clima de Natal, tema do exercício.
O pacotinho, descobrimos, era um ovinho de galinha (do sítio dela), delicadamente recheado(por ela!)com um delicioso chocolate. Imagine se não comi aquilo como se fosse uma poção mágica? Depois daquele chocolate, estou achando que passei a escrever muuuuuito melhor! Obrigada Teruko pela tarde maravilhosa, sempre a terei em meu coração.

Resultado da oficina - haicais sobre Natal:

Sagrada família
Tirada dos embrulhos
Tempo de Natal. (Danita)

Meias na lareira
Recheadas de presentes
Viram Furoshiki (Danita)

Festa de Natal
O aniversariante
Pregado na cruz (Teruko Oda)

Teruko me ensina
A ser pinheiro
e a ser bambu. (Danita)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Oficina de Haikai - 6 - Rima. Ter ou não ter?




(Quem opina é a menina Nina que este tema origina e a oficina refina, a quem dedico essa rima. Ai, isso contamina e desatina!!)

O Haicai (ou Haikai, ou Haiku) originalmente, é claro, é em japonês e SEM rima. Explora, contudo, a sonoridade da língua japonesa. Delicada, com vogais marcadas. Me arrisco a poucas palavras em japonês, mas já convivi com muitos, trabalhei com vários, tenho entre meus compadres e melhores amigos descendentes de japoneses e até sobrinhos (minha irmã casou-se com um nissei). Por isso tenho certa familiaridade com a melodia do idioma japonês. Em português, procuramos a mesma essência e concisão. As rimas, aliterações e até trocadilhos dão um certo charme e cadência ao haicai mestiço, abrasileirado. Até o mestre Goga achava interessante. Mas não é regra. Aliás, desvirtua a regra. Mas, poesia é poesia. Se toca a alma e transmite a beleza zen do haicai, porque não?
Tenho uma toria particular sobre rimas. Eles são como gatos. Quando você chama, vai atrás, ela não vem. Deixe a rima vir, enrolar-se nas suas pernas, na hora que ela quiser. Aí você tenta tocar a rima fora e a danada volta! Só assim me aparecem as rimas boas!

Paciência de tartaruga
Cem anos
Em cada ruga
(Alexandre Brito)


que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?
(Carlos Seabra)

Três flores unidas
Criam caso na alcova do vaso
E tramam escondidas.
(Danita, rimado e Guilhermino)


Flor-estrela viva
Na copa da árvore galopa
Humilde e altiva.
(Danita, rimado e Guilhermino)

domingo, 14 de agosto de 2011

Oficina de Haikai - 5. Mulheres e Haikai




Nas regras poéticas do Peregrino, de Bashô, que aparece no Goshichiki em 1760 (66 anos após sua morte) no capítulo 12 diz: "Não se torne íntimo com as mulheres escrevendo haikku; não é bom para a estudante nem para o professor. Se ela está determinada sobre o haikku, ensine-a através de uma outra. A natureza dos homens e mulheres é a reprodução. A distração perturba a riqueza e a unidade da mente. O caminho para o haikku surge da concentração. Olhe para si mesmo.
Não é curioso e cômico? Enredados em tamanho estado de poesia, natural que ocorressem romances.
Coincidência (ou não) Paulo Leminsky e Alice Ruiz formaram um casal referência quando se pensa em Haikai. A poetisa Curitibana premiada 2 vezes com o Jabuti de poesias, é autora de vários dos meus poemas preferidos (e tive a honra de ser sua aluna).

Entre uma estrela
E um vagalume
O sol se põe

Varal vazio
um só fio
lua ao meio

Outra Curitibana, anterior à Alice foi a doce Helena Kolody, veja que encantador:
Arco-íris no céu.
está sorrindo o menino
que há pouco chorou


Fanny Luíza Dupré foi a primeira mulher a publicar um livro (Pétalas ao Vento – Haicais)em 1949
Pinheirais augustos.
Curitiba. Paraná...
Vestidos de verde

Outra mulher que se destaca é Teruko Oda.
Teruko publicou vários livros e consta em muitas anntologias. Entre eles, NATUREZA - BERÇO DO HAICAI (KIGOLOGIA E ANTOLOGIA) como co-autora do mestre Hidekazu Masuda (Goga).

Ventinho da tarde.
no leve ondular de folhas
Cigarra de outono.

Dia de descanso
Vem da serra, sem descanso
canto da araponga


Eu mesma traduzi alguns haicais de escritoras americanas no meu blog, que você leitor poderá consultar nas publicações mais antigas deste blog, em português e Inglês.
Mulher e Haikai caminham muito bem juntos. Um abraço. Mulheres Haicaistas, por favor contribuam!!

domingo, 7 de agosto de 2011

Oficina de Haikai - 4 - Guilherminos




(...Mas, o que é haicai? - Criada por Bashô (sec. XVII) e humanizada por Issa (sec XVIII), o haicai é a poesia reduzida à expressão mais simples. Um mero enunciado: lógico, mas inexplicado. Apenas uma pura emoção colhida ao vôo furtivo das estações que passam, como se colhe uma flor na primavera, uma folha morta no outono, um floco de neve no inverno... Emoção concentrada numa síntese fina...)
Esta é uma explicação do poeta Paulista, Campineiro Guilherme de Almeida, que morreu quando eu tinha só 3 anos e infelizmente não poderia namorá-lo. Mas nada me impede de amá-lo. Esse poeta perfeccionista, inspirado, moderno e curioso conheceu um cônsul japonês na década de 30, frequentou encontros poéticos na comunidade oriental, encantou-se pelo jogo do haicai. Porém incorporou uma regra peculiar (que me agrada muito, mas não é lá muito zen). Ele sugere uma rima encadeada no segundo verso, além das rimas do primeiro e terceiro versos. Ou seja, pura matemática, uma brincadeira de encaixe. Veja o exemplo abaixo e conheça mais http://www.terebess.hu/english/haiku/almeida.html

O haicai (Guilherme de Almeida)

Lava, escorre, agita
a areia. E enfim, na batéia,
fica uma pepita

Eu ADORO, A D O R O!!!! os Haicais Guilherminos. O mestre Goga afirmou que na língua portuguesa as rimas são suaves. Os haicais Guilherminos são haicais mestiços, abrasileirados. Mas belíssimos.

Atrevo-me até a ensaiar alguns.

Nos malabares
labaredas de seda
Bailam nos ares.
(Danita Cotrim)

Tempo vai ligeiro
Broto frágil torna-se ágil
Alto pinheiro
(Danita Cotrim)

Agradeço aos amigos da net que têm feito comentários e postado lindos haicais. Continuemos o jogo.

domingo, 31 de julho de 2011

Oficina de Haikai - 3 - Métrica (Quem tem uma régua para se medir a vida?)




Meu carinho imenso aos amigos haicaístas que nos brindaram generosamente com lindos poemas nos comentários deste blog.

Haikai é um jogo e portanto tem suas regras básicas. Uma delas é a métrica. Falta de métrica descaracteriza o haikai. Pode ser poesia, mas vira poemínimo, poetrix. Para levar nome haicai, precisa haver três versos que não ultrapassem dezessete sílabas poéticas (ou sons poéticos). São cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro (5-7-5). Lembrando que em português, o verso se conta até o fim da última sílaba tônica. No entanto, a poesia não deve se escravizar à métrica, poesia não se sente à regua. Prefiro assim, poesia desmedida, aquela de peso errado, generosa, oferecida.

Da dama-da-noite
vem o vento perfumado
na mesa ao ar livre
(Mestre Masuda Goga)

Ipês floridos
depois da tempestde
a rua roxa
(Jussara Moraes)

Caminhos do sul
Entre pinheiros negros
Rasga o céu azul
(Danita Cotrim)

domingo, 24 de julho de 2011

Oficina de Haikai - 2. Kigo, o que é isso?




Haikai tem que ter kigo. O Kigo é a palavra que dá o mote, o tema e principalmente uma dica sobre qual estação do ano/natureza o haikai se refere. Por exemplo:

Torrentes geladas
lavam e levam
o lajeado. (Danita 2010)

As "torrentes geladas" podem ser um kigo de inverno.

Um haicai clássico inspira-se e indica uma estação do ano e os elementos da natureza. É uma transcrição literária do momento volátil.
Praia pode ser um kigo de verão. Lua cheia brilhante, um kigo de outono. Vinho quente, um kigo de inverno.
O kigo também é um desafio para um jogo de haikai.
Vou propor um Kigo: cachecol.

Faço o meu haikai de hoje.

Menina no sofá
aconchegado no colo
o gato é seu cachecol.

Para mais informação
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/388754

domingo, 17 de julho de 2011

Oficina de Haikai - 1 Compartilhando o que aprendi





Hoje vou tomar a liberdade de fazer um rascunho de uma troca de idéias sobre haikai. Não tenho a pretensão que seja uma " oficina de haikai", porém, o pouco que consegui amealhar, trocarei com quem estiver disposto a ler.

* Aprendi que nem todo poema de três versos é um haikai.
* O haikai é uma foto onde parecemos...mas nunca aparececemos.
Somos apenas o "fotógrafo" anônimo.
* O haikai é orgânico, não tem conservantes, faz bem à saúde, ajuda na concentração, pricipalmente quando começamos a perceber beleza nas coisas que ninguém nota.
* O haikai é um jogo, podemos jogá-lo sozinhos, mas com outros jogadores é muito mais gostoso. Mesmo que os jogadores sejam leitores virtuais.
* Melhor que sudoku, pois ao invés de números, joga com palavras.

Paraty


Sobre telhados coloniais
As flores esticam pescoços
Para espiar o cais

On the roof top, with no fear
The flowers stretch their necks
To spy on Paraty´s pier

domingo, 26 de junho de 2011

Winter / Inverno




Árvore carregada
Doces pontos alaranjados
enchem o inverno de sol

Tree loaded
Sweet orange dots
fills winter with sun

segunda-feira, 20 de junho de 2011

SIM NÔNIMOS

AQUI É SER.
À NU, IR
COM COR:DAR
COM SENTIR.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Náufrago número 3

Me encontraste.
Neste oceano sou a garrafa, a mensagem
E meu próprio resgate

domingo, 12 de junho de 2011

Tradução de Amy Lowell (1919)

Beyond the porcelain fence of the pleasure garden,
I hear the frogs in the blue-green rice-fields;
But the sword-shaped moon
Has cut my heart in two.


Além da frágil cerca do jardim da alegria
Ouço sapos no triste verde campo de arroz;
Mas a lua, que parece uma adaga fria.
Cortou o meu coração em dois.

Translation from Ruth Yarrow

window clouds:
under the quilt
our soft folds

Janela enevoada.
Sob as dobras da manta
Nossas dobras macias

domingo, 5 de junho de 2011

Outono/ Autumn

Luz nos galhos de outono
A sombra pinta ideogramas
Nos muros da rua

Over the branches light is indiscreet
The Autumn shadow paints ideograms
On the walls of the street

domingo, 29 de maio de 2011


Tres Gatos deitados
No telhado da estufa
Tigrados de luz do sol

Hábeis gatos contornam
Vários vasos de orquídeas
E levam as cores a passear

Translation of a poem from Adelaide Crapsey

Three silent things:
The falling snow...
the hour before the dawn...
the mouth of one just dead.

Três coisas tão caladas:
a neve a cair do céu...
a hora antes da alvorada...
os lábios de quem morreu.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

On the flight

Na Lanhouse do aeroporto vejo a web
Colorida por uma amiga com fotos de flores
O dia já ficou mais iluminado
(para Kris)

domingo, 15 de maio de 2011

Foi tanto vinho e alegria
Que até a placa no poste: Gesso e PVC
Parecia ter tanta poesia.

So much joy and wine
Even the plate on the wall: Plaster and Plumber
Seemed to be divine

domingo, 1 de maio de 2011

A casa das Orquídeas


Tantas orquídeas na casa
Por que tantas?
As flores não são pra vender,
Se não dá pra comer,
Se não trazem grana?
Que família estranha...
Não dá para entender.

So many orchids in the house
Why so many?
If the flowers are not for selling,
If they can not really eat them,
And are useless for making money?
What a strange family...
They are really funny.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Moon light Serenade 2


Luzes da cidade
Competem com a lua.
Quem ignora quem?

Competing with the moon.
City Lights shine
Who ignores whom?

Moon light Serenade



Noite na rua
Quatro lanternas
A última é a lua

Night comes soon
Four Lanterns in the street
The latter is the moon

domingo, 24 de abril de 2011

Noite em Minas

Minas, menina preta
Sardenta de estrelas
Lua sorrindo, secreta

Minas is a black girl
Freckles like shining stars
Smile as a moon pearl

domingo, 17 de abril de 2011




Velha jardineira
Quanto mais perto do céu
Mais fala com flores

Old gardener
Closer to the heaven
More talks with flowers

domingo, 10 de abril de 2011

Vazio

Hoje não há flores no vaso. Só o vazio desocupando tudo.

Today there are no flowers in the vase. Only emptiness taking all spaces.

domingo, 3 de abril de 2011




Quando a cidade engasga
sua hipnótica cacofonia
de martírio e
intolerância
Uma branca e bela orquídea,
Da árvore me desafia
a reescrever
meu dia

When the city dances
in hypnotic trance
of pain and
intolerance
A beautiful white orchid
gives me the chance
of rewriting
my romance

domingo, 20 de março de 2011

Oncidium Sharry Baby


A hug that wraps up
I love the scent of
chocolate flower cup

Abraço de arremate
Tanto amo esse ramo
de flores chocolate

sexta-feira, 4 de março de 2011

Arpophyllum


Há pessoas que carregam o mundo nos ombros.
Eu só quero o pouso de uma flor.

There are people who bear the world on their shoulders.
I just want to take the touch of a flower.

domingo, 27 de fevereiro de 2011





Olhei tanta flor, que me transpirei.
Agora estou em eterno estado de Primavera.

I spied so many flowers that I perspired myself.
Now I am in eternal state of Spring.

domingo, 13 de fevereiro de 2011




Vestida de festa e nua
A Vanda na minha varanda
Não floresce, flutua

Vanda like a torch
in a bright flower dress
Lightens my porch

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Like a star





Octoméria no arrebol
Vestiu-se de estrela
Para a festa do sol

Octomeria in afterglow
She dressed like a star
when sun makes its show

No ar




Chuva de ouro deixa no ar reticências amarelas...
Golden rain. Yellow ellipsis floating in the air ...

Labiata




Cattleya Labiata passou batom para beijar meus olhos por dentro.
Cattleya Labiata using lipstick to kiss my eyes, but from inside.